Professora Gislaine Buosi dá dicas de redação para quem vai fazer o Enem
O Enem está chegando e você está preparado?
A professora de Redação e Literatura do 3º Ano Integrado e Pré-vestibular do Colégio OBJETIVO Pouso Alegre, Gislaine Buosi selecionou três redações/dissertações cujos temas podem ser requeridos no próximo Enem ou em qualquer outro grande vestibular.
Tema 1: Doenças da Modernidade, por Gustavo Fechus, ex-aluno do Colégio Objetivo, hoje professor de redação;
Tema 2: Proposta de Flexibilização do Currículo do Ensino Médio, por Gislaine Buosi, professora de redação e literatura do Colégio Objetivo;
Tema 3: Bullying, por Gislaine Buosi, professora de redação e literatura do Colégio Objetivo.
Tema 1: Doenças da modernidade
Felicidadeemcápsula
Por Gustavo Fechus
Na família, no trabalho, na rua, na igreja ou no bar, sempre há alguém que sofre com doenças psíquicas. Todavia, a frequência de diagnósticos como depressão, bipolaridade e déficit de atenção ainda divide opiniões: ao passo que alguns especialistas admitem que o reconhecimento dessas doenças representa importantes avanços para a medicina, outros as consideram simples “patologização” do comportamento humano. Mas qual seria a razão dessa divergência?
Primeiramente, há que se considerar que o século XX foi um período de profundas modificações dos paradigmas do homem moderno; afinal, “tudo que é sólido desmancha no ar”, já afirmava Karl Marx, em uma de suas formulações mais importantes. Na contemporaneidade, a solidez da família, da religião e das instituições sociais foi fundamentalmente substituída pela centralidade de um sujeito hiperindividualista e autossuficiente. Toda essa mudança, afirmam os estudiosos, tem contribuído decisivamente para o aumento das psicopatologias.
Como consequência desses transtornos, medicamentos antidepressivos têm sido amplamente comercializados pela indústria farmacêutica e, obviamente, receitados pela classe médica. Não se pode desconsiderar, todavia, que muitas vezes os diagnósticos são imprecisos, irresponsáveis e equivocados; assim, as prescrições médicas também o são, o que gera uma população de dependentes químicos que transfere aos remédios a razão de sua (in)felicidade.
Portanto, para interromper o ciclo de consumo desenfreado de medicamentos, é preciso coibir toda a cadeia produtiva – desde o laboratório, que manipula, passando pelo médico, que receita, batendo na farmácia, que comercializa, chegando até o paciente, que consome. Nesse sentido, o Ministério da Saúde, em parceria com Estados e Municípios, deveria aumentar a fiscalização sobre a venda de medicamentos sem receita médica; por sua vez, o Conselho Federal de Medicina deveria criar instrumentos mais eficazes para punir casos de negligência médica. A felicidade, afinal, não está à venda na farmácia.
Tema 2: Proposta de flexibilização do currículo do Ensino Médio
(Marquês de Pombal)2
Por Gislaine Buosi
Há aproximadamente dez anos, ministérios e secretarias debatem a proposta de flexibilização do currículo do Ensino Médio, tido como arcaico, vez que, não só incapaz de estimular o aprendizado, mas também ineficiente para inserir o estudante no mercado de trabalho. Aqueles que ainda defendem o currículo, apoiam-se na bandeira da tradição. Porém, uma ressalva: “tradicional” é aquilo que veio do passado e precisa ser preservado, enquanto que “arcaico” é aquilo que veio do passado e deve ser por lá mesmo abandonado. E então a dúvida: o currículo do Ensino Médio é tradicional ou arcaico?
Estatísticas nos dão conta de que a evasão escolar deve-se à grade curricular obrigatória, considerada por muitos adolescentes como enfadonha, difícil e inútil. Ora, a tabela periódica, os sonetos camonianos e o determinismo de Darwin nem de longe são atraentes ao perfil tecnológico do estudante do novo milênio, ainda mais quando chega ao conhecimento dele que as diretrizes e bases da Educação foram formatadas há trezentos anos, quando o ensino jesuítico foi golpeado pelo despotismo esclarecido.
A questão feita na abertura encontra resposta nas salas de aula, alunos enfileirados, um colado à nuca do outro, as mesmas réguas, as mesmas regras utilizadas pelos avós. Sim, tudo isso é arcaico. Apesar de o Marquês de Pombal, no Século das Luzes, ter revolucionado a Educação, é fato que uma nova revolução se impõe. Aquela, empreendida por Pombal, há de ser golpeada pelos intelectuais de hoje, que, decretando a obsolescência do currículo do Ensino Médio (diga-se agonizante), apregoem um novo, que dialogue, de fato, com os reclamos atuais.
Todavia, pretenderem os entusiastas da proposta de flexibilização do currículo do EM que o aluno, nos tenros 14 anos, escolha a grade que lhe sorria, não é de todo acertado. Isso porque é fato que o adolescente, no final do EM, aos 17 anos, tem sobre si o peso da escolha profissional – oportunizar essa mesma escolha, ainda mais precocemente, é errar duas vezes.
É preciso buscar o equilíbrio: o Ministério da Educação deve, então, remodelar o currículo do EM, antessala do Curso Superior (e não flexibilizá-lo), vez que, tal como está, pretende esgotar a Matemática e a Língua Portuguesa em quatro ou cinco aulas semanais, o que pode ser possível ao estudante da rede particular, pouco mais de 1 milhão, mas não ao estudante da rede pública, mais de 9 milhões – isso por motivos óbvios, os quais não cabem nessa discussão. Cabe aqui citar Einstein: “tolice é fazer as coisas sempre do mesmo jeito e esperar resultados diferentes.”
Tema 3: Bullying
A educação ascensão pela pedra
Por Gislaine Buosi
Consta nos anais da literatura que Lorde Byron, uma das mais influentes figuras do Romantismo britânico, era o protótipo do patinho feio. Isso porque o poeta pessimista do mal-do-século era coxo de nascença. Não fosse o bastante, há registros de que o pai dele era persona non grata – eufemismo para “bandido”, que o moço era usuário de droga, que se envolveu numa relação incestuosa, noutra homossexual. Resultado: bullying, ou seja, exclusão, piadinhas, apelidos. O bullying, tal como se conhece hoje, não é novidade, sobretudo o bullying familiar ou o proveniente do grupo ao qual uma pessoa está ligada e, por isso mesmo, deveria tê-la com afeto. A violência sistemática, na voz dos estudiosos, é uma forma de tortura socialmente aceita, e remonta à Idade Média, na época dos tribunais da família, quando discordar dos pais significava passar dias em praça pública, atado a uma árvore, à mercê das chacotas dos passantes. Todavia, a data de validade dessa brincadeira sem graça está vencida. Será?
É preciso trazer à tona, a despeito da nocividade do bullying de que tanto se fala hoje, que há quem reconheça seus pontos positivos, vez que tal provocação redunda no amadurecimento indispensável à vida profissional – o mercado é ofensivo, é tribal, é evolucionista, nos exatos contornos de Darwin. Lorde Byron, o coxo, roía-se de ódio e, por isso mesmo, passou a despejá-lo nas folhas de papel. Ponto para a Literatura satânica do século XIX – até porque, cediço que o sofrimento inspira e a alegria massageia. Outro exemplo imortal, nosso Machado de Assis, gago, epilético, pobre, mulato, 4º ano do Fundamental, risadinhas, adeus escola – esse, o ficcionista mais prestigiado do planeta.
No contraponto, as estatísticas multiplicam-se ao sabor da grafite: 60% dos jovens de 14 a 19 anos já foram alvo de violência na escola; 47% dos casos resultaram em mortes. Os estudiosos mais diligentes destacam as personagens do funesto enredo: agressor, vítima e testemunhas. Enquanto isso os legisladores pretendem delegar às instituições de ensino a missão de banir o bullying do ambiente escolar – e aqui há de se abrir um parêntese para lembrar a velha premissa: educação vem do berço. E quem é o bully senão alguém exatamente sem esse berço?
A demanda se aquece. É preciso que se encontre um ponto de equilíbrio. Afinal, a afronta de hoje pode ser o combustível da ascensão a que todos aspiram, porém não é nada agradável divisar a reta de chegada com os olhos roxos. E então pais e educadores devem se unir para fiscalizar o bully, acenando em favor daqueles que, por ora, estão oprimidos.
Bons estudos e boa sorte! 😀